quinta-feira, 25 de março de 2010

"O que há em mim é sobretudo cansaço..." *

Pessoa escrevera para ela. Fora esse o tema da discórdia. Uma impossibilidade. Degladiaram-se pela atenção do Poeta, numa guerrilha de palavras doces e sorrisos oblíquos. O cessar fogo, esse chegou quando lhe segredou ao ouvido que também ele escreveria para ela, porquanto era o único que entendia a matéria de que a sua alma era feita.
Aguardava impacientemente a intifada contra o Poeta. Desejava a tradução da sua alma por parte de quem tão bem entendia o seu corpo.

Não.

Das entrelinhas inexistentes das páginas em branco que sumptuosa e altivamente lhe entregou, ela retirou, qual mensagem subliminar, que tudo não passara de fogo fátuo. Que a sua alma continuava indecifrável e que apenas o Poeta com os seus languidos e cansados “íssimos” compreendia que nela havia uma dor macerada e calada pela insistência no óbvio, no fácil, no imediato, no transparente e no solar.


(*Citação de Álvaro de Campos)

3 comentários:

  1. Gostei imenso!Continua na linha do anterior,poético, com mais profundidade! A minha fé neste blog não era infundada

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  2. Eu,que não serei
    o que em ti meu ser almeja
    Na pobreza destas palavras,
    em que me esgoto,
    Nesta impotência que vês.
    Sem missangas para horizontes
    Sem rio para tua foz.
    Só porque,fado,poeta não sou
    Do Poeta, tua alma
    de um que teu corpo amanha
    e eu
    de ti tão cheio
    nem poeta nem humano

    De um fiel seguidor

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  3. Que Carlos Serra releve a utilização de três frases que apliquei,mas precisava delas para vincar o não ser poeta e saber que esta autora oas reconheceria.

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